Por Mariah Bressani
Atualmente, para “conhecer” os deuses gregos é necessário colocar de lado o conceito cristão de “deus perfeito, onipotente, onipresente e onisciente”.
Lembre-se que os deuses gregos “nasceram” na Grécia antiga pré cristã. E, para os gregos daquela época, a diferença básica entre os deuses e os seres humanos era que os deuses eram imortais, enquanto que os seres humanos não o eram. Portanto, despojem-se de seus conceitos cristãos para compreender os deuses gregos!
Na Grécia antiga, a atuação de cada deus e deusa se dava em função de seus atributos. Aqui você conhecerá os principais deuses da antiguidade grega:
Assim, Zeus “existia” para ser o “pai de todos” – dos deuses e dos seres humanos – e, deste modo, cumpria sua função.
Hera “existia” para personificar a capacidade e a necessidade – do ser humano – de compromisso e de tornar o casamento “sagrado” – aos olhos dos deuses e dos homens.
Afrodite “existia” para estimular os prazeres e perceber a beleza da Vida e de tudo à sua volta.
Ares “existia” para estimular a competição – como que para promover a “seleção natural” (descoberta bem posteriormente por Darwin) do mais forte entre os seres humanos, e, assim, ser possível preservar seu território e alimento.
Hermes “existia” para cumprir a função de mensageiro entre os deuses e entre os homens – uma necessidade sempre presente no ser humano.
Poseidon reinava sob os mares; ele “existia” para ser o guardião do mundo insondável e difuso das águas profundas.
Deméter era a deusa mãe terra – ela “existia” para personificar a própria terra receptiva à semente, que guardava em seu bojo, para que pudesse germinar e produzir mais alimentos para os seres humanos.
Plutão – o rico – reinava no submundo; ele “existia” para “guardar a morte” e as sementes que eram semeadas, para que renascesse uma nova vida.
Core – a jovem –, que com o casamento com Plutão transformou-se em Perséfone – a rainha do submundo. Ela simbolizava a semente, que no interior da terra fértil e úmida rompia a casca e morria enquanto semente e renascia como planta frutífera. Ela “existia” para lembrar a todos que em tudo existia a vida e a morte.
Portanto, não é possível entender os deuses e a mitologia grega “ao pé da letra”. Afinal, para os gregos as funções básicas de seus deuses (pré cristãos) – com seus respectivos atributos – eram voltados para a realização e a manutenção da Vida. E, assim, quem quiser compreender os deuses gregos da antiguidade, se torna necessário “olhar” cada deus e deusa sob um enfoque diferente da educação cristã.
Por exemplo, quando os gregos diziam que Zeus e Hera que, além de marido e esposa também eram irmãos, eles queriam dizer que os dois tinham as mesmas origem e realeza e deveriam ser reverenciados igualmente – cada qual com seus respectivos atributos, tão necessários aos seres humanos.
É claro que, por se tratar de uma cultura patriarcal, Zeus era mais valorizado e cultuado que Hera e a ira desta, por causa das “traições” de Zeus, era sempre colocada em descrédito e desqualificada.
Quando diziam que Core fora raptada por Plutão e tornado-se Perséfone e comparavam-na à uma semente, os gregos queriam dizer que havia momentos na vida de todo ser humano que era preciso romper a casca dura dos condicionamentos para que fosse possível crescer; que era preciso deixar alguma crença ou papel social ou situação “morrer” para que outra crença ou papel social ou situação renascesse em seu lugar.
Um exemplo: a pessoa só pode se tornar adulta quando a criança morre (e é no processo da adolescência que isto ocorre). A adolescência é um período predominantemente “plutônico”: é o deus Plutão “sequestrando” a criança – Core –, que ficará retida por um período (adolescência) até que aconteça a transformação e a pessoa torna-se adulta.
Com a contribuição de Jung, sobre seu entendimento do funcionamento psíquico do ser humano, foi possível compreender os simbolismos dos deuses gregos em função de seus atributos a partir do conceito de “arquétipo”, que significa “modelo típico”, como uma referência universal de um típico “modelo de ser” (mãe é mãe em qualquer lugar do mundo, tanto com os seres humanos como os animais!).
Arquétipos são modelos típicos utilizados – inconscientemente – pelos seres humanos nos diversos papéis sociais que atuam no decorrer de suas vidas. Cada modelo típico tem seus atributos intrínsecos (da mesma forma que os deuses da antiguidade também os tinham).
Assim, por exemplo, quando falamos ou pensamos na palavra mãe, além da experiência com nossa própria mãe, nos vem à mente a imagem de uma mulher acolhedora e nutridora – este é “modelo típico” representado pela deusa Deméter, a mãe terra. E, assim, é a partir desse “modelo típico”, que acreditamos que nossa mãe foi ou é adequada ou não em seu papel de “nossa mãe”.
Deste modo, uma mulher torna-se mãe, não apenas a partir do modelo de sua “mãe terrena”, mas também a partir de sua “mãe divina” internalizada e que “emana” do arquétipo materno.
Então, assim, é possível encontrar nos diversos “deuses”, com seus tributos, os modelos típicos de “como ser”, em nossos diversos papéis sociais que vivemos nas mais diversas situações sociais.
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imagem: Google
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