Por Mariah Bressani
Os relacionamentos humanos estão em crise. Crise, porque está acontecendo grande transformação na forma de se desempenhar os papéis sociais, sejam papéis como pais, sejam como homem e mulher, e todos os outros. Crise, porque nesta transformação de papéis ainda não se sabe claramente o que “pode” ou “não pode”, o que é “certo” ou o que é “errado” fazer ou exigir numa relação. Entretanto, a pior de todas as crises é a crise moral e ética em que vivemos.
A coisa está tão séria que vemos explodir as denúncias de corrupção na política, a impunidade descabida correndo solta, vemos a violência desenfreada na sociedade humana a ponto dessa violência se infiltrar nos lares, perdendo-se todos os parâmetros. E em todas as situações sobra para nós, pobres mortais, somente a impotência!
Certamente que as informações estão chegando mais rapidamente até nós do que em outros tempo; mas, o que eu vejo são as crises dos papéis sociais gerando a crise moral e ética na sociedade (que já estava frágil!), trazendo, assim, cada vez mais em maior proporção, a violência para dentro dos lares e em todos os ambientes habitados pelos humanos.
As relações humanas tem o Amor como base para o seu pacto principal. Seja este Amor filial, fraternal, parental ou carnal.
É o amor que aproxima as pessoas. A aceitação e a admiração são algumas das expressões deste Amor.
Quando nos sentimos aceitos e admirados por alguém, nos sentimos amados e quando ainda por cima isso é recíproco, mais do que nunca queremos manter esta relação.
O grande problema é que só amor (o que já não é pouco numa relação) não basta, porque em nome deste amor que é dado, muitas vezes são exigidas contrapartidas que não são do direito e nem legitimadas pelo Amor. Percebemos as invasões dos espaços do outro em nome do Amor, sentimos o desrespeito em nome deste Amor.
Portanto, além de Amor, uma relação não sobrevive sem o Respeito. É fundamental respeitar a individualidade do outro, bem como nos respeitar. É importante respeitar nossa individualidade na relação com o outro.
Outro ingrediente imprescindível em qualquer relação é a Confiança.
Sem Confiança não investimos, não nos envolvemos e não nos entregamos em nada. Sem Confiança a relação fica estabelecida na superficialidade, sem nunca saber, realmente, com quem estamos, e quem está conosco não sabe, de verdade, quem somos.
Mas, para que haja Respeito e Confiança numa relação é absolutamente fundamental que haja Educação. E o que é Educação?
Eu chamo de se ter Educação quando a pessoa tem um mínimo de consciência de seus limites – direitos e deveres – enquanto Indivíduo, em toda e qualquer situação de vida, inclusive nas suas relações – ou seja, é fundamental noções básicas de Ética!
Hoje, é justamente pela deficiência de parâmetros claros e definidos de tais limites, que as pessoas estão muito mais autocentradas em suas próprias necessidades. Não estão conseguindo pensar no outro, nas necessidades do outro e, consequentemente, não confiam que o outro genuinamente possa fazê-lo também.
Estão todos vivendo pelo “princípio do prazer”, como diria Freud; porque lidar com a realidade simplesmente não é fácil.
As pessoas querem ter tudo, mas não querem dar nada! Pararam na fase dos três anos de idade: querem viver e experimentar tudo o que a vida se lhes apresenta, mas não querem assumir nenhum compromisso e responsabilidade sobre isso, como qualquer adulto saudável faria. Isto é princípio do prazer. Viver o bem bom da vida sem qualquer comprometimento de sua parte.
Está faltando – coletivamente – maturidade para viver a vida realisticamente. Falta o desenvolvimento de valores morais e éticos na relação com a vida e, consequentemente, na relação com as pessoas.
A vida e as relações humanas são feitas de direitos e deveres, mas se não existe um certo grau de desenvolvimento de valores éticos e morais – que eu chamo de Educação (porque é na educação recebida que se formam tais valores) – acaba por estabelecer-se contatos e relacionamentos pautados apenas nos “meus direitos” e totalmente inconsciente dos “meus deveres” – como qualquer criança de três anos de idade!
Por isto, é importante desenvolver a consciência de onde termina você e onde começa o outro.
Mas, quais são as suas necessidades e quais são as necessidades do outro dentro das relações?
Ter “noção” de ética e moral é o princípio sine qua non para se estabelecer qualquer relação.
Eu entendo por Ética como conduta de vida, onde sempre precisa estar presente um pensamento básico: “Tudo que me faz mal, que me incomoda, que me deixa infeliz ‘provavelmente’ poderá também afetar o outro e fazer-lhe mal, incomodá-lo e deixá-lo infeliz”.
Proponho à você um pequeno exercício: se eu tenho um relacionamento fixo com alguém e se me sinto atraído por outro alguém (o que é absolutamente natural que aconteça!), como devo proceder? Devo atuar com minha atração e me envolver em paralelo com esta outra pessoa?
Caso eu o faça, dentro dos parâmetros éticos – baseado no pacto de confiança e respeito dentro da relação (o que lhe seria próprio) – estaria eu traindo a confiança do parceiro fixo.
E se fosse o contrário: se meu parceiro fixo atuasse sua atração em paralelo à sua relação comigo, como eu me sentiria?
O problema é que a maioria das pessoas não faz este tipo de exercício ético: se colocar no lugar do outro.
E é isto que eu chamo de conduta ética: é saber que o que me atinge como indivíduo e ser humano, poderá atingir também o outro, como indivíduo e ser humano.
Independentemente do que a convenção social determina como modelo de atuação para os papéis que representamos (não podemos nos esquecer que a sociedade é formada por cada um de nós – portanto, somos nós que, verdadeiramente, determinamos os modelos dos papéis sociais a desempenhar), jamais devemos nos esquecer de que a base para a relação indivíduo<>indivíduo é a ética e a moral, que tem como princípio básico o Respeito e a Confiança. Caso contrário, o que teremos é uma banalização da Vida e, consequentemente, das relações que se tornam cada vez mais descartáveis. Todos se tornam descartáveis, porque falta amor e respeito à Vida, bem como falta a confiança de que a Vida proverá.
É importante que cada um de nós faça a sua parte para sair da impotência na qual socialmente entramos com a crise que se instalou: resgatar finalmente o Amor e a Ética, em princípio, na nossa própria vida e, depois, estender este “resgate” em todas as nossas relações. Precisamos entender que, realmente, depende única e exclusivamente de cada indivíduo expressar Amor e Ética na própria vida, nas relações pessoais e na sociedade humana de modo geral.
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imagens: unsplash e pixabay
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3 comentários:
Mariah,
Muito bom o texto, faço das suas palavras as minhas.
Abraço!
Mariah
Adorei. Muito interessante mesmo. É isso que falta nas relações: respeito e confiança..e com isso vamos ficando mais sós.
Parabéns!
Realmente é isso mesmo, a falta de ética e moral das pessoas hoje, está tornando a convivência cada vez mais difícil. É importante também perceber que esses valores são desenvolvidos na infância..."os Pais devem pensar nisso"...
Parabéns pelo texto.
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