Por Mariah Bressani
Desde os primórdios, o ser humano vem se desenvolvendo em todos os níveis – intelectual, emocional, técnico e psicológico –, afetando suas relações e sua produção e tornando-as cada vez mais complexas.
A cada passo
que o ser humano dá em seu desenvolvimento, são necessários novos aparatos que
lhes dê suporte e permitam continuar. Novas ferramentas e tecnologias foram
sendo produzidas ao longo de sua história, sustentando seu aperfeiçoamento
técnico. Como também nasceram os pensamentos míticos e seus deuses, depois
surgiram, ainda na antiguidade, a criação da filosofia e, há pouco mais de um
século, da psicologia, e, atualmente, o coaching coloca-se, num crescente, como
força propulsora para auxiliar as pessoas nos crescimentos e aperfeiçoamentos
individuais e humanos.
Ao examinar
alguns conceitos básicos das técnicas da psicologia junguiana e do coaching,
fazendo um levantamento de alguns de seus aspectos relevantes e um paralelo
entre seus processos, é possível detectar alguns pontos em comum e outros,
diametralmente opostos. A questão a ser discutida neste artigo é a possibilidade
de articulá-las e harmonizá-las satisfatoriamente e trazer excelentes e
melhores resultados para pacientes da psicologia e clientes de coaching.
Jung
trouxe-nos vários e novos conceitos e percepções inovadores com relação ao
aparelho psíquico humano, num caminho aberto corajosamente por Freud,
tornando-se, tradicionalmente, uma técnica para o desenvolvimento da
autoconsciência do ser humano.
Segundo ele,
tendo como base a compreensão do funcionamento e dinâmica das instâncias do
aparelho psíquico do ser humano, o psicoterapeuta deve receber seu paciente,
tendo como objetivo principal ajudá-lo na resolução dos conflitos psicológicos
que o trazem à psicoterapia, promovendo recuperação e cura de sua saúde
psíquica.
Seguindo sua
orientação, o foco do processo da psicoterapia deve ser na reeducação e
transformação da pessoa. A partir da reorganização de sua psique ocorre maior
conscientização, ou seja, amplia sua consciência sobre si mesma e, como
consequência, há desenvolvimento de atitudes mais sadias e aptas para viver sua
vida e, assim, ela pode colocar-se em harmonia na sociedade e, principalmente,
consigo mesma.
O coaching,
como a psicoterapia junguiana, é um processo, porém, moderno, que também
pretende reeducar e transformar a pessoa, trazendo-lhe maior conscientização de
seu modus operandi, para que também
possa desenvolver atitudes mais sadias, assertivas, aptas e adaptativas para
viver sua vida e, consequentemente, atingir seu objetivo proposto.
É observando
onde se está e onde se quer chegar, em determinado aspecto de sua vida, que o
cliente estabelece seu objetivo e, passo a passo, auxiliado pelo profissional,
segue em sua direção. Assim, o cenário do processo de coaching é o presente do
cliente, voltando-se e direcionando-se para o seu futuro, para o seu objetivo
pretendido.
A diferença –
essencial e significativa – no ponto de partida dos dois processos é o foco.
Enquanto a psicoterapia junguiana focaliza na resolução de conflitos
psicológicos do paciente, o coaching foca no atingimento do estado desejado do
cliente.
Segundo o
psicólogo, no processo de psicoterapia, para ter acesso à parte inconsciente de
sua psique e conseguir a resolução do conflito psicológico, o psicoterapeuta
deve estimular o paciente à introspecção, de modo a conhecer às suas qualidades
psíquicas ali retidas, bem como, à sua dinâmica e interação; isto é, como tais
elementos psíquicos estão interligados no recesso da inconsciência do paciente,
gerando seus padrões comportamentais inadequados.
Como também se
faz necessário no processo de coaching o exercício de reflexão, para que o
cliente reavalie seus padrões de crenças, de valores e de comportamentos com
foco na realização de seu objetivo almejado.
Para Jung, a
psicoterapia é um mergulho profundo e subjetivo, onde devem ser trabalhadas as
diversas nuances (camadas) de um conflito psíquico; sendo, assim, um trabalho
árduo e gradativo, que demanda tempo indeterminado para se alcançar a resolução
do conflito psicológico e, consequentemente, a cura.
O coaching, ao
contrário, é um processo pragmático, pois foca no que é objetivamente dado pela
realidade concreta e trabalha as questões dos níveis neurológicos – ambiente,
comportamento, capacidades e habilidades, crenças e valores, identidade,
afiliação e legado – que envolvem as ações do cliente, para que ele possa
atingir o seu estado desejado; e, assim, divergindo e não considerando
necessário o mergulho psicológico profundo, proposto por Jung. Para o coaching,
o trabalho e o resultado do seu processo devem trazer satisfação e segurança
pessoais suficientes para mudar aqueles padrões, que anteriormente eram
inadequados e ineficazes.
Diferentemente
da psicoterapia junguiana, no processo de coaching, é necessário que se
estabeleça um prazo, com previsão de uma data específica, para que o cliente
alcance seu objetivo. Igualmente à psicoterapia junguiana, o desenrolar do
processo de coaching também deve ocorrer com encontros periódicos e
sistemáticos entre profissional e cliente. Entretanto, na primeira, a proposta
é dar assistência à evolução da resolução e cura do conflito psíquico, enquanto
que no segundo, a proposta é acompanhar e auxiliar o cliente no avanço gradual
em direção ao atingimento de seu objetivo.
Artigo completo no livro "Master Coaches", Editora Ser Mais.
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